segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Bom dia!

Sempre que chego a Lorena a primeira coisa que faço é trocar de roupa. Visualmente falando me torno uma pessoa completamente diferente do que sou hoje em São Paulo quando chego a Lorena, volto a ser a “Karen com 15 anos”, pois uso as roupas dessa época, que no geral são camisetas e bermudas de colégio. Na verdade gosto da despreocupação que Lorena me passa quando se trata de vestimenta. Em São Paulo me acostumei a sair com roupa para todo tipo de ocasião porque nunca sei como será o dia, então visto roupa para reunião de trabalho, atividade esportiva, festa e que possa se tornar um pijama facilmente se precisar dormir fora. Sem contar a variação climática, o que me faz sair com várias camadas para enfrentar chuva, sol e quem sabe, considerando as coisas como estão, até neve.

Então mais uma vez eu chegava a Lorena, desta vez para passar o Dia das Mães com a minha mãe. Cheguei sábado bem cedo e mal havia deixado as minhas coisas em casa e minha irmã já havia saído para levar o então namorado dela, hoje marido, para a rodoviária para que ele pudesse também passar o fim de semana com a mãe dele em São Paulo.

Tão logo troquei de roupa, já saí correndo em direção à rodoviária para me despedir do meu cunhado. São uns 20 minutos de caminhada, mas no final, mesmo saindo às pressas, acabei não chegando a tempo de “dar tchau” para ele, porque no meio do caminho conheci a Bertina.

Já estava na rua da rodoviária quando encontrei uma senhora (de uns 65 anos) catadora de recicláveis com aqueles carrinhos de mão invertido, ou carroça, como ela mesma chamou. Em São Paulo encontro o pessoal puxando isso em quase todo bairro, é algo “comum”, mas em Lorena eu vi dois, um moço, um pouco antes de encontrá-la, e ela. E não sei se sempre fui negligente, mas não me lembrava de ter visto esse tipo de carroça antes em Lorena – e encontrar um atrás do outro foi o que me chamou a atenção, o que em São Paulo talvez eu nem notasse. No interior já vi várias carroças puxadas por cavalos, jegues ou mulas e isso era completamente comum – mas por pessoas me parecia uma “novidade vinda da capital”.

Meu grande defeito de não saber disfarçar quando eu fico concentrada em algo, me fez ficar encarando-a, filosofando acerca do peso, do cansaço, do cheiro, do desconforto e de que parecia muito triste ver uma senhora, num sábado tão bonito, trabalhando em algo tão penoso. Confesso que quando estou com pressa eu me desligo do mundo e fico o caminho todo mentalizando como chegar no horário e eventualmente, quando vejo que não vou chegar, pensando em como me explicar, mas aí eu a avistei e me distraí ainda mais quando ela me notou e ao invés dela se sentir incomodada, como eu esperaria, foi tão simpática e me deu “BOM DIA!”.

Assim, feliz!

Ela sorriu e foi quando notei que eu devia estar descaradamente encarando-a.

Estávamos andando lado a lado e a segunda coisa que eu disse (após responder com outro “Bom dia!”) foi: A senhora quer ajuda?

E é lógico que ela queria.

Era um sábado realmente bonito, a rua estava tranquila, então ela colocou a carroça no chão e trocamos de lugar.

Desequilibrei-me pra levantar a carroça e começar a puxá-la, ela esperou eu me ajeitar e começou a andar do meu lado. Fomos conversando o caminho todo até a rodoviária, nos apresentamos e ela perguntou de onde eu era e o que fazia ali. Falei do Dia das Mães e ela contou sobre a sua neta, que também se chamava Karen.

- E porque a senhora não está com ela aproveitando o Dia das Mães?

- Ah, eu vou aproveitar, mas é só amanhã! Hoje ainda trabalho pela mesma razão que todo mundo, né? A gente tem que viver e o dia hoje tá bom pra isso!

- Pra viver?

- Pra viver também, até porque não dá pra pular o dia pra isso. Mas digo para trabalhar.

A conversa continuou leve por todo o percurso: uma linha reta de uns 10 minutos de caminhada. E apesar disso, eu falava quase no automático enquanto dividia os meus esforços entre a necessidade física de carregar aquilo e a mental de entender tudo o que ocorria:

Era um trecho minúsculo e todas as pessoas que estavam ou passavam na rua olhavam encarando como provavelmente eu estava fazendo quando a encontrei. Isso é um pouquinho constrangedor, ao menos eu não me sentia confortável com a situação, então resolvi dar “Bom dia!” sempre que alguém olhava fixamente, como a Bertina. Achei que tinha sido bacana da parte dela então copiei – a diferença é que ninguém respondeu. Mas se fosse só isso, dava para se acostumar, mas como achar normal uma pessoa dentro de um carro confortável buzinar e abaixar o vidro da janela só para dizer “VOCÊ ESTÁ ATRAPALHANDO A RUA, SUA IDIOTA!” enquanto te ultrapassa passando bem rente como se ameaçasse te atropelar? Eu confesso que queria mandar o carona à merda, mas ignorei porque ela – a Bertina – ainda estava falando normalmente como se nem tivesse notado aquilo. Acho que dos três carros que passaram, três buzinaram freneticamente. Tá que eu devia estar andando bem lento e meio torto, mas não é fácil carregar aquilo e direcionar, mas a rua é larga, na verdade é uma avenida e tinha espaço à vontade para os carros passarem, os três juntos, aliás – ou seja, transito nenhum – e juro que não entendi a necessidade disso.

Então a gente caminhava, alguns encaravam, alguns ignoravam o “Bom dia!”, alguns buzinavam, alguns ofendiam e a nossa conversa continuava e meus pensamentos também.

“Se em Lorena que passaram três carros e dez pessoas eu já me senti tão mal por ver tanta careta, imagina em São Paulo? Como se sentem?”

A Bertina, na verdade, parecia normal. Pensei em perguntar sobre isso, mas fiquei com receio de ser rude ou mesmo de cortar sua alegria enquanto contava sobre sua neta e falava sobre internet e tecnologia, assunto que ela entendia bem melhor do que eu.

Aliás, ela entrou nesse assunto porque antes eu havia comentado como puxar aquela carroça era algo pesado, que ela devia estar cansada, e que eu não sei se conseguiria andar com aquilo por tanto tempo quanto ela provavelmente ainda iria andar.

- Ah isso aí é porque os jovens hoje estão mais acostumados com a internet, ficam sentados e usam mais o cérebro que os braços, mas é bom, porque hoje a sociedade precisa muito mais de alguém que saiba mexer em um Photoshop ou em um Linux do que quem sabe puxar carroça! Já eu desde criança uso os braços, as pernas, mas se quero ver vídeo no Youtube demoro anos pra conseguir digitar! – e deu uma risadinha parecida com um “hehe”.

Achei bem atípico ver uma senhora, que até pouco tempo antes estava puxando uma carroça, falando de Photoshop, Linux e Youtube – achei ainda mais incrível porque ela pressupunha que eu era dessa geração jovem e “antenada” que se entende muito bem com a tecnologia e estava achando igualmente atípico ver uma jovem que mal sabia mexer em um celular.

Era um pouco irônico que eu, a “jovem”, era a pessoa desinformada e ela, a “senhora”, falava com tanta propriedade de programas que eu conhecia, mas não dominava – o que fui extremamente sincera com ela:

- Não sei mexer nem no Photoshop nem no Linux, mas gosto do Paint. – eu ri, mas é a verdade.

- É... amiguinha. Paint acho que também não dá muito futuro não! – rimos juntas, mas é: até agora, não deu mesmo.

A gente se despediu quando chegamos à rodoviária e ela seguiu como se nada houvesse mudado – o que pode ter sido só uma impressão porque ela sempre manteve a mesma postura sobre todo o momento que compartilhamos. De qualquer forma, para mim mudou. Bastante. Me senti meio "Gugu Liberato" mas fiquei feliz em conhecê-la e acho que ela ficou feliz em não ter que carregar a carroça por um tempo. Então saímos as duas sorrindo. O resto do meu dia continuou incrível, mas fiquei pensando sobre o que ocorreu.

Encontrei a minha irmã e seguimos nosso caminho, sem ninguém encarando “com a cara torta”, ninguém me chamou de idiota e resolvi fazer o teste do “Bom dia!” e adivinhem? Todos responderam.

Escrito em maio de 2010

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

PÁÁÁ...

Novo item para a lista de acidentes inexplicáveis: ser atropelada.

Ontem eu fui tirar foto da fachada do meu trabalho para um projeto da minha irmã. Em frente estava estacionado um carro em nossa vaga, me ajeitei e bati a foto mesmo assim - até que apareceu uma moça levemente escandalosa berrando:

"EI! EEEI! Eu já ia tirar o carro, eu já estava saindo, NÃO PRECISA TIRAR FOTO NÃÃÃÃO..."

Enquanto ela berrava eu disse que não estava batendo foto do carro e sim da fachada...
Mas acho que ela não ouviu, entrou no carro e aparentemente ia seguir para a rua...
Até que...
PÁÁÁ...
Me atropelou.

Na verdade ela estava fazendo uma super manobra radical para colocar o carro na vaga certa e eu de costas não a vi, ela não viu, quando vi já estava ali chorando elegantemente. Me recompus como uma senhora de 80 anos com dor nas costas e entrei na loja. A Val (que trabalha comigo e viu tudo) me recepcionou com amor:

"COMO VOCÊ CONSEGUIU SER ATROPELADA NA CALÇADA, HARUMI?! Por um carro manobrando?? Você ultrapassa todos os conceitos de uma pessoa anormal!!"

"Mas dessa vez não foi minha culpa, Val :( Não briga comigo :( Eu tava ali parada com o celular e acho que a moça tava brava e..."

Fui interrompida pela a moça que entrou na loja escandalosamente e começou a berra de novo:

"VOCÊ TÁ BEM? EU TE ATROPELEI, NÉ? EU ATROPELEI ELA, NÉ?"

"Sim." Eu e a Val respondemos.

"ME AVISARAM E LARGUEI MEU FILHO ALI...VOCÊ TÁ BEM? TE MACHUQUEI? TA DOENDO? CÊ TÁ CHORANDO? AAAH ME DESCULPAAA"

"Eu to bem...que bom que você é um ser humano bom e veio pedir desculpas e ver se estou bem, obrigada."

"Por te atropelar?"

"Não...por ser voa, achei que você estava brava e tinha feito de maldade porque achou que eu estava tirando foto do seu carro..."

"NÃÃÃO IMAGINAAA, FOI SEM QUERER!! QUE HORRÍVEL, JAMAIS FARIA ISSO...EU SÓ NÃO TE VI MESMO, VOCÊ É MUITO PEQUENININHA E QUANDO DEU O TRANCO ACHEI QUE FOSSE A CALÇADA..."

"Tudo bem, to bem mesmo, to até feliz! Pelo menos você tem coração, né? Mais do que eu imaginei ao menos. Mas não precisa abraçar, não, flor..." (porque as costas estavam um pouquinho doloridas e ela tentando me fazer carinho estava esfregando a chave em mim).

"Então fico aliviada. Me desculpa mesmo! Mesmo, mesmo! Se você precisar de algo eu to aqui do lado...estacionada ali direitinho." (e de fato ela estacionou bem dessa vez, não era uma vaga fácil)

Aí ela saiu e minha chefe gritou lá de cima:

"Você está bem, Karen? Achei que a gente já ia ter que te levar pro hospital de novo!"

...

Mas algo bom saiu disso: com essa experiência eu vi que nem sempre as pessoas são más e vingativas, às vezes elas só são distraídas como eu, mas com uma Pajero 4x4.


Escrito em setembro de 2016

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Na Bardaria

18h30.

Deu o horário para encontrar as Bias. Sai correndo e fui a primeira chegar, o que particularmente eu gosto. Sentei na calçada, a Bia Yumi foi a segunda a chegar e logo depois a Bia Lena.

Primeiro jantamos no Lamen-Açu: Yumi pediu Shoyu Lamen, porque ela gosta dos simples, Bia Lena pediu Miso Lamen, porque ela gosta dos tradicionais e eu pedi o Amazon Lamen porque eu gosto dos estranhos.

Rimos, comemos, conversamos, rimos, bebemos, conversamos, rimos, comemos, pagamos.

De lá fomos para o Sukiya comer sobremesas.

Rimos, comemos, conversamos, rimos, bebemos, conversamos, rimos, comemos, pagamos.

De lá fomos para uma bardaria (um bar meio padaria hehe me senti genial com este trocadilho!) que não sei o nome. O lugar mais exótico de todos que fomos nessa noite. Tinha uma moça andando vestida de unicórnio (com chifre, peruca e vestido temático), tinha uma família tradicional jantando, tinha casal brigando, tinha casal se pegando, tinha homens que a única companhia era o copo de pinga, tinha um senhor comendo sanduíche como se fosse 7h da manhã (apesar de serem 2h da manhã), tinha uma senhora que a gente tinha certeza que veio direto das gravações de Harry Potter com seu penteado peculiar, tinha crianças correndo, tinha uns motoqueiros sem moto. Enfim, tinha uma grande diversidade de pessoas, incluindo nós!

Rimos, comemos, conversamos, rimos, bebemos, conversamos, rimos, comemos, e antes de pagar me veio o pensamento de como aquela noite estava sendo incrível.

(depois de pagar a sensação continuou hahah É só que aquele foi o momento que me desconectei um pouco de tudo que estávamos conversando, rindo e compartilhando para me concentrar em achar o cartão - e essa brecha me permitiu perceber a alegria que eu sentia em estar ali, naquele momento)

O que tornava aquele momento sensacional (além daquele cenário com figurantes espetaculares que foram um diferencial para a nossa memória e para a cinematografia da história) era o fato que estávamos em três pessoas que se gostam muito, se conhecem muito, se preocupam muito uma com as outras, apreciam a companhia e os conselhos uma das outras, com muitas histórias pra contar, vontade de ouvir e que conseguem transformar qualquer assunto em algo interessante para se conversar (qualquer mesmo: Instagram, política, meritocracia, Cabify x 99 Taxis, diálogos do Whatsapp, comidas boas, comidas ruins, música, histórias do passado, relacionamentos, pessoas bonitas, cabelos, falta de cabelos, maquiagem, Lojas Mel e uma infinidade de assuntos que possa caber dentro da definição de "qualquer coisa"). Tínhamos muito amor se personificando em detalhes como indicação de doces, internet roteada e aguardar os motoristas todas juntas e ter certeza que ninguém iria ficar em nenhum momento sozinha.

Eu - que sempre gostei da ideia de momentos mágicos por causa do destino, das coincidências e fico falando como tudo é cósmico (eu sei que é chato gente, estou parando) - de repente percebi que o o que realmente tornava o momento mágico e incrível era só o fato de nós três nos gostarmos e querermos estar ali, se divertindo, sem pretensão de ser mais descolada do que já não somos, mais inteligentes, mais bonitas ou mesmo menos confusas.

Querer estar exatamente onde você está, ficar feliz por ser quem você é, vivenciar o momento despretensiosamente e apreciar as companhias que temos torna tudo mais mágico do que qualquer coincidência que possa acontecer. Ontem não nos encontramos por acaso ou pela força do cosmos, marcamos e ali estávamos e foi mágico exatamente por ser assim :)

Não foi o local, a comida ou o evento que tornou aquela noite legal, mas sim as companhias. Uma noite comum (desconsiderando algumas pessoas que estavam fazendo parte do cenário) foi uma das mais legais de todo esse ano. Tem dias, como ontem, que eu vejo que a gente não precisa de muito pra ser feliz, só precisamos dos amigos certos.

Escrito em setembro de 2017

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Temaki

Ontem foi um dia atípico.

Primeiro tivemos um mistério meio Sherlock Holmes no trabalho com um cliente fantasma, que pode nunca ter realmente existido. E logo após o trabalho eu tinha combinado com a minha irmã de irmos juntas à uma palestra que ela foi convidada.

Como estou com um aparelho celular que só me permite ter 2 aplicativos por vez e eu não escolhi nenhum aplicativo de trasporte, tive que pedir ajuda para a minha mãe solicitar um táxi para mim.

Já estava meio escuro e o movimento meio escasso, resolvi aguardar o táxi em um ambiente mais movimentado e acolhedor, escolhi a Cobasi na Giovanni Gronchi.

Estava eu lá na porta com o celular procurando a numeração do prédio quando surgiu um moço de bicicleta meio afobado, falando alguma coisa que eu não entendi logo de cara porque ainda prestava atenção na minha mãe falando do outro lado da linha. Foi só quando ele mexeu no casaco para tirar algo que eu comecei a ignorar minha amada mamis para prestar atenção no que ia acontecer ali.

Eu já estava tensa, respiração ofegante, quando TCHARÃ: o moço tira um mini-mini-mini gatinho preto de patinhas brancas e coloca no meu braço "Você está entrando aí? Deixa com eles? Cuida, por favor?"

"Oi? O que é isso? Que aconteceu?" - eu estava meio aliviada que era um gato, mas também não estava entendendo muito aquilo andando em mim. Eu REALMENTE pensei que aquilo podia ser uma nova estratégia pra fazer eu segurar o gatinho e soltar o celular.

O moço respondeu: "Tinham dois gatinhos na rua, mas o carro atropelou um e consegui salvar esse e trouxe aqui. Muito obrigado!"

Ele falou já saindo.

Foi tudo muito rápido. Essas frases todas não devem ter levado 2 segundos para serem ditas e eu respondi "Cuido sim." - mas totalmente no reflexo (maaaaano, meus reflexos são péssimos e sempre me fazem tomar as decisões mais ingênuas).

O gatinho começou a entrar no meu casaco quando me toquei que a minha mãe estava berrando do outro lado "KAREN, QUE ACONTECEU? RESPONDE! VOCÊ NÃO PODE MAIS CUIDAR DE NENHUM GATO! KAREN QUAL O NÚMERO DAÍ? SUA IRMÃ TÁ ESPERANDO! KAREN CÊ TÁ VIVA?"

Entrei na Cobasi, pedi o número do prédio para uma funcionária, respondi minha mãe, desliguei e contei a situação do gatinho - tudo no automático.

"Aqui a gente não aceita animais, não."

"Eu sei, mas não tem alguém que vocês possam ligar? Alguma ONG?"

"Só tem uma moça que às vezes aparece de terça, mas hoje não tem não. Vai ter que levar com você!"

"Moça, eu não posso. Estou indo para uma palestra e eu já tenho duas gatinhas em casa. O gatinho pode ficar ao menos essa noite em algum lugar seguro aqui e amanhã eu venho resolver isso mais cedo?"

"Não. E se você deixar aqui eu vou te denunciar porque abandono de animal é crime."

Enquanto isso o gatinho já tinha explorado todo o meu casaco e mastigado metade do meu cabelo.

Resumindo: por 5 minutos ficamos nesse diálogo vai e volta até eu ficar ali parada na porta com o gatinho me olhando todo fofinho e eu tentando não olhar de volta, pensando que eu não podia levar o gatinho comigo, mas eu também não podia deixá-lo ali.

Aparecia gente perguntando o que estava acontecendo, mas ninguém podia ajudar.

Eu já estava chamando de "meu amor" e pensando em que nome de comida eu ia dar pro animalzinho que combinasse com aquelas patinhas brancas.

Aí minha mãe mandou mensagem.

Eu tinha pouco tempo.

Bateu a racionalidade que eu não tenho como ter outro gatinho e implorei mentalmente para o universo me ajudar a encontrar alguém para cuidar dele, quando... TCHARÃ 2: uma outra funcionária da Cobasi me viu lá na porta parada com uma expressão provavelmente não comum perguntou o que estava acontecendo.

"Você está doando esse gatinho?"

"Acho que sim! Preciso encontrar um lugar pra ele ficar!"

"Que perfeito! Esses dias mesmo a minha sogra comentou que desejava um!"

Por 1 segundo eu fiquei feliz.

Mais 1 segundo e eu parei pra pensar.

Eu sei que não estava em condição de selecionar "cuidadores" pro gatinho, mas eu também pensei que ele era pretinho e que recentemente uma amiga adotou um gatinho preto porque são os que as pessoas mais fazem maldades.

"Pô, mas ela trabalha na Cobasi, deve gostar de animais" eu pensei.

Mas eu já ando tão sem fé no mundo que me respondi com meu lado teorias da conspiração "E SE ELA TRABALHA AQUI SÓ PRA PEGAR GATINHOS E FAZER MALDADES SEM NINGUÉM SUSPEITAR?"

Mal concluí o pensamento, nem precisei verbalizar, uma outra funcionária que veio ver o que estava acontecendo falou:

"Você não podia deixar com ninguém melhor! Essa aí sempre que vê um animalzinho quer levar pra casa, finalmente aconteceu! Essa aí ama mais os animais do que gente!"

E aí a própria Marcilene (ou Marilene, foi tudo tão emocionante que eu não lembro o nome dela) disse:

"Na verdade é pra minha sogra, né? Mas se ela não quiser, ou não conseguir cuidar, fica comigo mesmo. Já tenho uma gatinha, vai fazer companhia! Vou avisar meu marido que hoje não volto de ônibus! Pode ficar mais tranquila. Qualquer coisa eu sou a Marcilene (ou Marilene) e eu fico ali no setor de aves, sempre que você quiser saber do gatinho, passa lá!"

E o dia continuou atípico, muitas, muitas, muitas coisas menores aconteceram, mas a sincronia de tudo nesse dia foi espetacular. Foi a terceira ou quarta vez que algo assim aconteceu tão instantaneamente. Eu pedi e aconteceu.

Ontem deu tudo certo.

Ajudei um gatinho a encontrar um lar.

Ajudei o moço que tava pedalando tudo torto, tentando coordenar como andar em uma avenida movimentada sem morrer enquanto resgatava um gato extremamente serelepe.

Ajudei a mim mesma a lembrar que tem dias que estamos "no lugar errado na hora errada", mas também há dias que estamos "no lugar certo na hora certa".

Eu vi uma cadeia gigantesca de amor e bondade ali e fiquei muito feliz de fazer parte. Vi um coletivismo espontâneo e uma dependência em confiar no outro sem saber realmente o fim da história. Essa "confiança" foi a única ponta solta que estava quando saí dali.

Na palestra ainda, por fim, vimos a história do Delfino Golfeto, fundador da Cachaçaria Água Doce que estava lá contando como seu negócio surgiu e cresceu e ontem celebrava 25 da sua primeira franquia em Ourinhos. A Sayuri, ficou bff da esposa dele - a história deles é bem bacana (tão boa quanto a história da Cachaçaria) - e no final a esposa dele, depois de nos contar a sua própria trajetória, ainda disse "Vocês precisam estar com alguém que vocês confiam. Confiança é a base dos bons relacionamentos. É dar o seu melhor para dar certo e acreditar que o outro também está dando o seu melhor."

Tá, que ela falou isso com relação ao casamento dela com o Delfino. Mas eu ouvi como se fosse o nó final na história do gatinho (que eu apelidei de Temaki, porque tinha patinhas e boquinha brancas com narizinho rosado que nem um salmão hahah).

A gente tem que confiar pra ter um bom relacionamento com o mundo.

Enfim, escrevi só pra compartilhar essa alegria porque nos últimos dias eu estava com umas histórias meio de desgraças e achei que era bom falar também das pequenas boas coisas (tão surpreendente quantos as grandes merdas) da vida.

Escrito em agosto de 2017

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Começando a escutar as dicas que me são dadas

Pessoa
[...]
Eu escrevi errado de propósito, aí que tá a graça rs
Sério que você não sacou?

Eu
não
achei que você tinha digitado errado sem querer e não eprceebu
eu faço isso as vezes

Pessoa
A não.
É a linguagem dos jovens, é a versão atualizada do kkk

Eu
até hj não saquei a do kkk - e olha que eu adoro a letra K pq é a letra do meu nome
mas enfim
já erro tanto escrevendo e falando, se não são os meus dedos que não acompanham as minahs ideias é o meu cperebro, então se sem me esforçar já sai tudo errado, não vejo razão para isso de propósito
ia ficar ainda masi difícil de me comunicar

Pessoa
Se escreve tão errado assim não devia corrigir então né

Eu
não corrigi, só perguntei pq eu realmente não tinha entendido

Pessoa
Quando for assim responde com "rs"

Eu
odeio "rs"
por isso que desisito de socializar

Pessoa
Você "desisite" propositalmente ou por erro de digitação?

Eu
desisto*

Pessoa
É, só volte quando o erro for proposital, vc ainda não está preparada a internet migs
Pro seu próprio bem



Escrito em julho de 2017